Busca de sentido do eu
Às vezes, estar em casa parece seguro. Buscamos esse conforto como um abrigo — é importante ter um cantinho, um momento do dia ou da noite, um espaço de privacidade onde possamos projetar nossas metas, expressar nossos desejos. Para mim, esse momento chega à tarde, quando uma mistura de fadiga e energia me invade, como se eu estivesse esperando algo mais — uma espécie de agonia serena.
Antes de dormir, ouço minha própria voz me perguntando: "Como foi o seu dia? O que mudou? O que você fez? Machucou alguém? Alguém te machucou?"
Quando alguém me fere, não deixo que esse cantinho se transforme num lugar de ódio. Ele é sagrado. É ali que guardo minhas melhores dádivas, é onde me recolho ao pensamento. Quando estou magoado com alguém, em silêncio, no meu íntimo, eu digo:
“Meu Deus, eu não entendo o que essa pessoa fez… Seria tão bom se tudo voltasse à paz.
Seria tão bom se essa pessoa me perdoasse… Não sei se o erro foi meu, mas espero que essa raiva e esse descontrole passem.
Mesmo quando estou bem, esse momento amargo me desequilibra por dentro.”
Segurança verdadeira é sobre nós mesmos — para que respingue sobre nós um pouco de glória e paz com a vida. Não estamos entregues ao acaso, mesmo que a resposta de Deus demore. Me resguardo no segredo d’Ele, que tudo vê e tudo sabe. Que Ele resguarde minha alma da ilusão, pois coloco meu bem diante Dele, para que eu tenha capacidade de perdoar... e ser perdoado.
Eu sei que não estou livre de errar. Nem sou totalmente correto. Há em mim uma parte que me alerta: “Não esconda de si mesmo a verdade de seus próprios erros.”
É difícil suportar o peso de um malfeito. Envergonha profundamente.
Por outro lado, a atenção e a cumplicidade de alguém nos trazem um senso de segurança tão intenso que, às vezes, nos tornamos dependentes. Mas não podemos depositar toda nossa segurança em alguém. O ser humano falha. E se confiamos demais, corremos o risco de nos tornarmos reféns de uma atenção que a outra pessoa talvez nem possa oferecer.
Nosso porto seguro precisa estar em nós. Seja espiritual, emocional, racional — um ato de fé, um sentido aguerrido de esperança.
No meu caso, escolho acreditar em Deus — não porque fui ensinado, mas porque essa crença cresceu em mim como resultado de questionamentos. Quando criança, perguntava: “Por que o dia termina? Por que dormimos? Por que o sol brilha tanto?”
E ao contemplar tudo isso, sentia em mim a presença de algo divino. A ordem das coisas me dizia: Deus permite o dia e a noite, o sono e o despertar, para que tudo se organize com sabedoria.
A natureza também ensina. O rio, ao buscar o mar, se adapta ao terreno, se molda ao caminho possível. Assim deve ser o fluxo da nossa vida. Ter um porto seguro é isso: saber se adaptar.
Mas cuidado — há quem deseje nosso prejuízo. Gente disfarçada de boas intenções, que carrega abusos, mentiras, trapaças, violências.
Eu busco entender o mundo pela Palavra de Deus. Vivemos sob sistemas que muitas vezes nos obrigam a contrariar nossos próprios ideais — como se fossem deuses. Um exemplo disso é a Coreia do Norte, onde o governo se impõe como entidade suprema.
Encontramos segurança quando conseguimos expressar quem somos — como um rugido feroz diante do desconhecido, gritando ao abismo: “Pode vir, estou preparado!”
Por isso, deixo aqui este convite: busque seu cantinho. Encontre seu tempo, seu íntimo. Observe o que vê nesse espelho: suas falhas e qualidades.
Essa voz interior que fala com verdade perguntará: "O que você tem preparado para si?"
Será riqueza? Paixões? Bem-estar?
Para mim, a resposta é: responsabilidade.
Educar-me, cuidar de mim, me orientar — como se a vida fosse um teste, e eu estivesse constantemente aprendendo a ser alguém melhor.